sábado, 26 de setembro de 2009

Pintura 227

Joaquim Lourenço - acrílico sobre papel, 70 x 50 cm - 2008


Dois homens sentam-se num banco de jardim continuando a conversa que dura há horas.
O entusiasmo da retórica passa agora pela literatura. De El Ixaqui, o historiador árabe que descreveu as aventuras do homem do Cairo que acreditava em sonhos nas Mil e Uma Noites, aos escritos de Jorge Luis Borges e da poesia de Walt Whitman a Vinicius de Morais, são alinhadas as palavras onde elas fazem mais sentido e formam as ideias.
Sucedem-se os temas: da música de Erik Satie à de George Gershwin; da pintura de Hieronymus Bosh à de Dali, Picasso, Júlio Pomar e Paula Rego; da política mundial à crise do sistema económico.
Como um turbilhão de parada e resposta desenrolam o novelo da cultura acumulada.
Repentinamente emudecem.
Só a agitação lenta e dessincronizada dos corpos desajeitados marca o compasso do tempo.
Por entre as ramagens o sol, curioso e suspenso, espreita silencioso.
Por fim, levanta-se um arranhando a cabeça num franzir de testa.
- Então... onde vamos hoje pedir esmola? Ou ficamos outra vez sem jantar?

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