sábado, 26 de setembro de 2009

Pintura 227

Joaquim Lourenço - acrílico sobre papel, 70 x 50 cm - 2008


Dois homens sentam-se num banco de jardim continuando a conversa que dura há horas.
O entusiasmo da retórica passa agora pela literatura. De El Ixaqui, o historiador árabe que descreveu as aventuras do homem do Cairo que acreditava em sonhos nas Mil e Uma Noites, aos escritos de Jorge Luis Borges e da poesia de Walt Whitman a Vinicius de Morais, são alinhadas as palavras onde elas fazem mais sentido e formam as ideias.
Sucedem-se os temas: da música de Erik Satie à de George Gershwin; da pintura de Hieronymus Bosh à de Dali, Picasso, Júlio Pomar e Paula Rego; da política mundial à crise do sistema económico.
Como um turbilhão de parada e resposta desenrolam o novelo da cultura acumulada.
Repentinamente emudecem.
Só a agitação lenta e dessincronizada dos corpos desajeitados marca o compasso do tempo.
Por entre as ramagens o sol, curioso e suspenso, espreita silencioso.
Por fim, levanta-se um arranhando a cabeça num franzir de testa.
- Então... onde vamos hoje pedir esmola? Ou ficamos outra vez sem jantar?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Pintura 311

Joaquim Lourenço - Acrílico sobre papel, 50 x 40 cm - 2009













Hoje, enchi o peito de ar e atravessei a nado a torrente do pensamento.
Por entre ondas de espuma, tornei a ver-te espalmado no ecrã do cinema. Nasalado e sibilante apregoavas por entre orelhas as virtudes do arlequim, desta vez, azul.
Desentendi o teu discurso. Era como água decidida do rio que corre apressada e procura incessante o mar. Nada mais importa.
Desenhei cuidadosamente o sorriso e por fim sorri. Senti-me incompleto. Tive saudades de Gioconda.
Voltei a sorrir. Não, só ela sabe. Só ela, quieta e muda, sabe construir aquele sorriso sempre, de sempre, para sempre.
Mas afinal, porque sorris ainda Gioconda?

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Joaquim Lourenço - Performance


Joaquim Lourenço - Performance "2L" com Vitor Pi








Não te peço o corpo, nem sequer as tuas asas
Peço apenas que me digas o que sentes ao voar.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Pintura 181

Joaquim Lourenço - Acrílico sobre papel, 75 x 50 cm - 2008
Alguém à minha frente dobra a orelha até conseguir metê-la na cavidade aurícular.
O que será que não quer ouvir?